| A TEMPESTADE |
A tempestade anunciou sua chegada em alto mar quando os barcos começaram a sair do cais, passando pelo imponente Farol da Barra a bombordo. A lua cheia e a sua energia das marés já dificultavam a navegação, prenunciando uma desafiante expedição de arrasto.
Barcos com menos de vinte e quatro metros de comprimento navegavam furiosamente nas ondas, que se enfureceram com a interferência dos corpos celestes. Eles se aventuraram mais longe da costa, na esperança de encontrar vastos cardumes de peixes enquanto a força das ondas quebrava na proa. A tempestade do mar dificultou o lançamento das redes, mas em determinado momento a natureza acabou virando o vento a seu favor. Agora, eles tinham que confiar que em poucas horas o peixe pescado valeria a pena a fúria da tempestade.
A falta de calma nessas horas de espera confundiu as emoções da tripulação. “Teremos gaivotas em terra quando a pesca terminar”, comentou o contramestre. A luz do dia estendeu-se com o regresso dos barcos, que foram seguidos por gaivotas de bico amarelo até à doca de Aveiro.
Guida aterrou na ponte, perto do comandante da embarcação “Eusébio”. Sua habilidade sempre lhe rendeu um ou dois robalos no bico. Ela foi reconhecida porque usava a faixa colorida F753 na pata esquerda, para observações de padrões de migração. Resgatada ainda jovem após fraturar a perna direita, ela foi cercada e protegida desde então. “Aqui está, Guida! Esses não podem ir ao mercado de peixe”, disse o capitão. Ela pegou o peixe e desapareceu imediatamente antes que qualquer pássaro faminto pudesse roubar seu generoso banquete.
Satisfeita, empoleirou-se no farol mais alto de Portugal, observando centenas de outras aves marinhas a pairar entre os barcos em busca de sustento, onde o mar e a ria se encontravam. Os mais ousados roubavam peixe aos pescadores descuidados e exaustos, mas não foi o cansaço que lhes diminuiu a alegria quando a fúria da noite deu lugar ao tagarelar das gaivotas de bico amarelo. Sinal de peixe no mercado... Sinal de que voltaram para casa.
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O temporal avisava a sua chegada em mar alto, quando as embarcações começavam a largar do cais e deixavam por bombordo o imponente Farol da Barra.A lua cheia e a sua energia na vazante dificultavam já o rumo e antecipavam uma penosa pesca de arrasto.
Barcos com menos de vinte e quatro metros de aplicação galgavam furiosamente as ondas, também elas enfurecidas com a interferência dos astros. Afastavam-se cada vez mais da costa, na esperança de encontrar grandes cardumes, mas as forças das vagas entravam pela proa adentro…
Teremos gaivotas em terra à chegada da faina, comentando o contramestre. O dia espreguiçava-se com o regresso das embarcações que se seguiam escoltadas pelas patas amarelas até à doca de Aveiro.
Guida pousava na ponte, próximo do mestre da embarcação “Eusébio”. A habilidade oferecia-lhe sempre um ou dois robalos no bico. Era reconhecido, desde que mantinha a anilha F753 colorida na pata esquerda, para observação dos modelos de migração. Salva, ainda jovem quando fraturou a pata direita foi argolada e protegida até hoje. Toma Guida! Estes não podem ir para a loteria, dizia o patrão. Pegue no peixe e facilmente desapareça antes que alguma faminta a furtasse o gentil repasto.
Saciada, pousava no topo do maior farol de Portugal e observava centenas de outras aves marinhas planando entre os botes em busca de sustento, onde o mar e a ria se desposavam. As mais afoitas subtraíam o peixe aos pescadores despreocupados e esfalfados, mas não era a fadiga que lhes afastava a satisfação quando a ira da noite dava lugar à tagarelice das gaivotas de bico amarelo. Sinal de peixe na lota…Sinal que tinha regressado a casa.
Maria José Carvalho de Almeida, 2023
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