A MENINA
Todo verão, assim que terminavam as aulas, eu ia para a casa da minha avó, no campo, onde a ajudava. O que realmente me encantou foi fazer o pão, que assávamos num grande forno a lenha.
Naquele ano, as férias começaram com o pé esquerdo, em meio à rebelião da adolescência: a da afirmação.
Insisti que queria aventurar-me sozinho numa colina distante que sempre me atraiu, para conquistar o mundo.
Minha avó, sorrindo, me disse, como desafio, que se eu quisesse não poderia desistir.
Aceitei com um sorriso altivo, mas na verdade, várias vezes tive que cerrar os dentes para chegar lá. A meio da encosta, as ruínas de uma casa deram-me sombra.
Eu tinha acabado de me instalar quando ouvi gritos indistintos não muito longe. Eu me escondi atrás de uma meia parede enquanto dois garotos vestindo suéteres cinza-metálicos, parecendo valentões, se aproximavam.
Mal ousando respirar, permaneci imóvel, observando-os.
Eles me notaram imediatamente:
“Bem, quem temos aqui, uma linda flor perdida”, disseram eles, zombeteiros.
Levantei-me de um salto, peguei um bastão comprido e de ponta larga, parecido com uma pá de padeiro, caí aos meus pés e atirei nos meninos, pegando-os de surpresa.
O sol escaldante daquela tarde me ofuscou, mas eu poderia jurar que os vi rodopiando no ar, caindo em fileiras de azedas amarelas, que estremeciam de espanto sob linhas de luz traçadas na poeira.