As Férias – Lá fora – O vizinho. O sol invadia a sala pelas frestas entreabertas das persianas da janela todos os dias anteriores. Eu estava acordando com a preguiça de quem não tem compromisso com os trabalhos escolares e o canto do galo que insistia em me chamar para mais um longo dia de aventuras. Nestes dias, a minha curiosidade já tinha percorrido todos os cantos e recantos conhecidos e agora ansiava por saltar as paredes da minha casa. Os avisos de minha mãe só aumentaram minha vontade de sair de casa. Fecho os olhos e posso sentir os batimentos cardíacos acelerados da menina enquanto ela vagueia pelo emaranhado de caminhos da aldeia. A curiosidade de espreitar pelos portões fechados das casas, o entusiasmo pela descoberta de mundos novos e escondidos, a adrenalina com os latidos dos cães que as guardavam mas que não me impediram de contemplar as flores, as árvores e as louças que em vão enfeitavam estas jardins proibidos e os azulejos que coloriam as fachadas e transformavam cada casa numa espécie de declaração plástica única e pessoal. No entanto, o meu olhar curioso foi retribuído, a curiosidade foi retribuída, não fui só eu que quis olhar e conhecer o bairro, este jogo não era só meu, os vizinhos também me olharam com curiosidade, questionando (embora e talvez não com a mesma ingenuidade) meu atrevimento infantil.